Poetas: Mauro Nardes e Dilamar Costenaro
Quando o dia boleia a perna,
O céu e a terra se abraçam,
A passarada brinca em gorjeios,
Brindando o arrebol que passa.
Fagulhas vão surgindo,
Bazeiro vindo do nada;
A pampa se veste de luto.
A quincha fica bordada.
A passarada toda se aquieta,
O brejo abre a cantilena.
E um guri percebe no breu,
Tudo em volta se apequena,
Sob a copa de um cinamomo,
Que nem filhote entanguido,
Em sonhos vence o tempo,
E se imagina crescido.
Vai embusca do fogão amigo,
Que geada grande se anuncia,
E no mate amargo do pai,
Um novo gaúcho se cria.
Se desfaz das calças curtas,
Para vestir um brim riscado,
Solta pro campo o petiço,
E senta as esporas num gateado.
Esse guri que antes sonhava
É o homem que está aqui
Igual na saudade de tantos
Que deixaram de ser guri.
Vivemos buscando o amanhã
Pois gente tem pressa demais,
Subtraímos o melhor do tempo,
Que só a memória nos trás.