Poeta: Nereu Avila do Nascimento
Meu pai fazia brinquedos,
Nem precisava pedir,
Na pobreza do meu lar,
Caminhãozinho de pau,
Cavalinho de taquara,
Que me ensinava brincar.
Eu ficava ali olhando
Fazer brinquedos pra mim,
Eu esperando pra brincar.
Corria carreira na estrada,
Na minha vida de criança,
Pequenas lidas e estudar.
Eu ajudava, brincava,
Estudava, sonhava,
Sim, sempre fui sonhador.
Queria um mundo melhor,
Diferente dos meus pais.
Sonhava até ser declamador.
Sempre gostei de poesia,
Mas de brincar também.
Ouvir o canto dos passarinhos,
O barulho de água na sanga,
Das patas dos meus cavalos,
Nas rodas dos caminhõezinhos.
Ah com eu sonhava
Fazer poesia de verdade
Como os grandes declamam,
Fazer gestos declamando
Ver a plateia levantar,
Como pros outros levantam.
Tinha orgulho de minha tropa,
Uma tropa de sabugos,
De ossinhos descarnados,
Roídos pelos cachorros.
As carretas de latas de marmeladas,
Rodas de carretéis cortados.
Eram assim os meus brinquedos,
Feitos por mãos de meu pai.
Nunca ganhei um Natal,
Eu não entendia aquilo,
Via o Natal dos outros,
O meu nunca foi igual.
Pensava: um dia serei grande,
Vou dar Natal pros filhos meus.
Mas vou fazer brinquedos pra eles
Como meu pai pra mim fez.
Serei um pai que dará presentes,
Feito por mim para meus filhos,
Quando chegar minha vez.