A infância alcança no estrivo, logo que acordam os galos...
...enquanto um braseiro vivo acorda o dia, em estralos.
Clareia escuros profundos que a madrugada guardava
com a “pontezuela” do mundo, que é o brilho da estrela D'alva!
Deixa alpargatas de lado, surradas pelos caminhos...
...põe botas cano dobrado, esporas sem ter espinho;
Cuida a geada por um vão, sem sair do rancherio...
...depois de “pisá” o rincão, não há silêncio e nem frio!
A infância alcança no estrivo, logo que encilha, assoviando...
...compreendendo algum motivo do tempo que vai passando;
Vendo que a vida é uma estrada, com atalhos e segredos,
que a gente encontra a cruzada só quando “salta” mais cedo!
Com o cabresto na mão, sai pelo galpão da alma...
...cuidando com o coração, o que a vista vê sem calma;
A pele nova da infância, ainda não tem cicatriz,
mas traz marcas que as estâncias registram num aprendiz!
E a montaria da infância, é um pingo de toda lida...
...com pata para as distâncias, apuros e recorridas;
Tem os cascos já curtidos, refeitos quando quebrados,
como nossos pés sentidos dos primeiros machucados!
A infância para rodeio na invernada da saudade,
com perguntas pelo meio sobre terrunhas verdades;
Erra conta e revisada, apura o cavalo em vão...
...mas a falha é uma jornada que dá rumo à perfeição!
E esses ventos cruzadores de grotas, sangas e matos...
...pra infância são senhores de conselhos tão exatos!
Varrem ciscos extraviados das taperas da incerteza...
...e sopram ternos recados da mais genuína presteza!
E o tempo – o mesmo das horas de ditar algum porvir –
vai cuidando campo afora, a infância se despedir;
Feito um capataz antigo que, num ponto passageiro,
vê indo embora um amigo e o melhor dos seus campeiros!
A infância alcança no estrivo, rangendo bastos no lombo...
...que o sonho é sempre cativo de quem não padece ao tombo;
A idade vai sujeitando destino e outras andanças...
...e a gente – mesmo mudando – fica sempre a ser criança!
Por isso, quando a infância insiste alcançar no estrivo,
recorro à velha importância que em dia nenhum esquivo:
...Se existe um guri com pressa, à galope a camperear,
há um homem – sempre às avessas – sereno, a desencilhar!