Poeta: Otavio Reichert
Foi… No início do outono,
No último acampamento.
Era um dia mormacento
E a tarde quase morria.
Eu lembro que a capivara
Saiu assim… No remanso.
E depois… O bicho manso,
Sem mostrar espanto ou medo,
Aninhou-se numa toca
Junto à sombra do arvoredo.
Fiz o mate, fiz a boia,
As funções de peão caseiro.
Enquanto a luz do braseiro
Vencia o sol no horizonte.
Foi no breu desta penumbra
Que ouvi rumores, gemidos.
Apurei os meus sentidos,
Um frio perpassando a espinha,
Tentei ver a capivara
Que era agora minha vizinha.
Seriam almas penadas?
Seria algum predador?
Naquilo o barco a motor
Retornou com meus amigos.
Depois de tomar um trago
E falarem de balelas,
Narrei, abrindo as panelas,
Do causo e da capivara.
Covarde! Fraco e medroso!
Eu fui motivo de farra.
O silêncio só se fez
Quando a boia foi servida.
As três bocas entretidas
Num carreteiro de charque.
Então ouvi! Também ouviram!
Lamentos feito criança.
Acabou-se a confiança!
Puxaram pistola e faca,
Das sombras se originava…
Ali defronte a barraca.
“Se for o capincho eu mato!”
Gritou o mais atrevido.
Porém seguiu, precavido,
Se escorando no compadre.
No alumiar da lanterna…
Brilharam luzes no abrigo.
Pensando que era perigo…
Tremeu a mão do sujeito.
No tronco da guajuvira
Mais um mistério desfeito.
Quatro filhotes no leito
Que a capivara pariu!
O parto feito nas águas…
E depois costeando o rio!