Meus pingos de lei

Poeta: Cândido Brasil - Cachoeirinha/RS

Declamador: Pedro Adolfo Roncato - Nova Prata/RS

Amadrinhador: Nícolas Rhay Toscan e Kauan de Melo Zembruski - Nova Prata/RS

Gaúcho flor de campeiro,
assim nasci e me criei,
tendo meus pingos de lei
na forma, o tempo inteiro,
meu primeiro companheiro
de cavalgata pacata,
que não aceitava bravata
e acelerava no trote,
firme sobre o serigote,
foi a perna do meu tata.

Cresci piazito taludo
na dura lida de campo,
me grudava feito grampo
no lombo de um crinudo,
fui ginete macanudo
dos que grudado não cai,
carrapato que se vai
peleando ao Deus dará,
meu melhor pingo de piá
foi o pescoço do meu pai.

Nesta infância campeira
lidando com redomão,
de rédeas firme na mão
tropeio a tarde inteira,
de a cavalo na porteira
sentando espora e porrete,
sou jóquei e sou ginete
voando alto do chão
ou na pista do galpão
galopando cavalete.

Quanta tropeada malina
com firmeza na alcatra,
na ponta ou na culatra
numa troteada teatina,
vendo o esvoaçar da crina,
sentindo o vento na cara
na estrada que escancara
o ofício de tropeiro,
numa tala de coqueiro
ou pedaço de taquara.

Vivo em cima dos arreios
equilibrando o espinhaço,
soltando tiro de laço
em pelados de rodeio,
deixo mascando no freio
meus pingos de ocasião:
um tonel meio cilhão,
o cachaço e o carneiro,
o cabrito e o terneiro,
que comem na minha mão.

Assim vivo na estância
tiflando a campo fora,
o tirim da minha espora
faz eco pela distância,
marcas da minha infância
são meias luas que deixei
gravadas por onde andei,
sem nunca levar um tombo
enforquilhado no lombo
destes meus pingos de lei.

6 respostas a “Meus pingos de lei

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *