Me atrapalho com as esporas,
mas não tiro do garrão.
O meu potro é um ventana,
uma flor de alazão.
Há muitos dias que lido
com essa tropa de aporreado,
Aparto um, encilho outro,
não deixo nenhum de lado.
Tem um preto orelhudo,
que me cuida atravessado.
E um roselhito prateado,
que escramuça embodocado.
Tem um mouro, crina grossa,
que refuga a mangueira.
E uma petiça bragada,
flor de égua caborteira.
Que já me largou de apé
lá no fundo da invernada,
quando apeei fechar a porteira,
e deixei ela desatada.
Um gateado pangaré,
que da peonada é mimoso,
me olha todo sestroso,
e escava terra no chão.
E o douradilho alazão,
risco de mula no lombo.
Montei nele quatro vezes,
quatro dias, quatro tombos.
Ainda me dói as costelas
da mordida da picaça.
Foi carinho, me disseram…
mas oigalê, que sem graça.
Dá pra ver a idade dela
nas marcas na minha carcaça.
Encilhando um cavalete
com as esporas no garrão,
me sinto um rei no trono,
na minha imaginação.
Sou maior que meu Rio Grande,
no lombo desse alazão.
3 respostas a “Tropilha de Sonhos”