Poeta: Alberto Sales
Deixei todos meus tesouros guardados
No sótão, do galpão do seu avô,
Registros nas prateleiras de encantos
Repletas de memórias bem antigas
Que repousam por esse doce manto.
Guardam nas tábuas sonhos atrevidos
Desenhos desbotados nas paredes,
Reinos imaginários e segredos
Cenários que registram o meu tempo
Na inocência, a infância sem medos.
No baú com a tampa arredondada
Tu vais encontrar as cinco marias,
O bodoque certeiro e um bornal,
Bola de pano feitio da vovó,
Só não tem telefone com sinal…
Decorei meus dois livros de história
Que os lia, até o lampião se apagar,
Não se tinha internet para pesquisa
Nem telefone com aplicativo
Tampouco, convivências com divisa.
Era nessa primitiva alegria
Meu desafiante maior o Pião,
Torce e torce o barbante pra soltar
E num turbilhão de giros e risos
Quanta alegria que tenho à lembrar.
Minhas jóias raras e cobiçadas
Brilhavam nos dedos num chão de terra,
As bolinhas de gude em minhas mãos
Era alegres com os meus amigos
Mas tinha estratégias e direção.
Ali, na prateleira bem atado
O meu alazão de galope rápido,
Num “upa”, recolhíamos o gado
Um cavalinho de pau corajoso,
Me carregava em sonhos encantados.
Também meu carrinho de rolimã
Que o vovô me ajudou a fazer,
O meu sinônimo de fantasia
Morro abaixo acelera o coração…
As mãos impulsionavam alegria.
Guardei neste galpão minhas memórias…
Repousam a melhor parte de mim,
E hoje, o muito que sou e trilho
É ter vivido toda a minha infância
Que a deixo, para você meu filho.