Poeta: Alex Brondani

Desencilho.
A campereada se termina
Quando termina a tarde.
Arreios, pelegos, avios,
Tudo é guardado no galpão da estância,
Teto do universo de um peão campeiro
Que se forjou na lida.

Em meio a soalheira,
Campeio a cambona.
No braseiro o cerne de pau ferro
Fumaceia o picumã antigo,
Alimentando o fogo de brasas pirilampas
Que sustentarão a noite.

Eu cevo o amargo,
Sem pressa, com respeito.
Um mate topetudo e macanudo,
Como eram os mates dos avós,
Tradicional e secular.

Neste oco de chão que é o meu mundo,
O galpão é o meu elemento;
Relógio do tempo que sorve as horas
Enquanto mateio.
Alheio aos meus devaneios,
Descortinado diante dos meus olhos,
Está o entardecer.

O entardecer.
Sim, eu me compreendo diante dele.
Diante dos bandos,
Flechas negras a rascunhar o horizonte;
Diante dos matizes,
Aquarelas coloridas de um outono em ascensão;
Diante da paisagem que ressonga,
Do rio que marejeia,
Da querência que encomprida as suas formas,
Do sol ardente que, aos poucos, se apaga.

É estranho,
Mas neste oco de chão em que me encontro,
Eu sinto que o entardecer
Também me compreende.

Aqui ele me viu nascer:
Um menino, algo entre alegre e curioso;
Aqui ele me viu crescer:
Um potro sem dono,
Em busca da liberdade;
Um aprendiz da lida,
Senhor do próprio destino,
Um capataz da vida.

Aqui, diante do entardecer,
Eu me fiz homem.

É estranho,
Pois neste fundo de chão em que me acho,
Eu sinto a minha alma aterrissando em mim,
Pois que estava longe, distante,
Para além do poente,
Como se estivesse presente
Em comunhão com o próprio criador.

Eu não sou um homem de fé,
Mas silencio;
E, no silêncio dos mates,
Entre os últimos olhares complacentes deste dia,
Eu o contemplo pela derradeira vez.

Não há palavras para dizer tudo o que sinto,
Nem sentimentos para expressar
A carga da emoção que me resguarda;
A força do universo está no firmamento,
E eu faço parte desta paisagem recriada.

É estranho dizer, paisano,
Mas todos os desenganos são pequenos
diante deste entardecer.

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