Poeta: Danilo Kuhn
Debaixo de seu chapéu
caminhava o poeta,
tinha alma de papel
e mil versos na gaveta.
Doído de tantas penas,
na moldura da esperança,
buscava a cura em poemas
na poesia das praças.
Na solidão de um banco,
desencantada da vida,
a menina era só pranto
pela boneca perdida.
Feito um caçador de rimas,
o poeta em desengano
prometeu para a menina
sua boneca de pano,
mas a tarde, de mansinho,
deu lugar à noite escura
e o rimador de caminhos
se perdeu em sua procura.
Ao raiar de um novo dia,
um poema amanheceu,
iluminando a poesia
que o poeta transcreveu:
“Minha criança querida,
me perdoes por partir
sem nenhuma despedida,
sentirei falta de ti.
Quero conhecer o mundo,
viajar pelas lonjuras.
Voltarei em um segundo,
nas asas das aventuras”.
E, assim, dia após dia,
pra consolar a criança,
o poeta descrevia
em seus versos as andanças
da boneca viajante
que em sonhos visitava
os lugares mais distantes
que sua alma alcançava.
“No País das Borboletas
moram as mais belas cores,
com suas tintas secretas
elas dão asas às flores”.
“Conheci Dona Rebeca
na Ilha da Fantasia
que dava vida às bonecas
com linha, lã e poesia”.
No entanto, de repente,
a palavra anoiteceu
e o poeta, em sol poente,
em versos adormeceu:
“Minha menina sapeca,
enfim eu me fiz regresso.
Não sou a mesma boneca,
mas o teu colo te peço.
Depois de tantas viagens
eu retornei diferente,
esta é a minha bagagem,
o meu mais caro presente”.
E a menina abraçou
a sua nova boneca
quando a pena repousou
sem a mão de seu poeta.