Poeta: Danilo Kuhn

Minha gaita de botão,
voz trocada, Dó e Fá,
trago junto ao coração,
dentro d’alma de piá.

Quando vou pr’algum rodeio,
levo a gaita a tiracolo,
logo ronca a baixaria
no compasso de algum solo.

Ela tem só oito baixos,
apenas duas hileiras,
mas dá conta do recado
nas andanças fandangueiras.

Quando eu toco a minha gaita,
faço levantar poeira
se abraço um chamamé,
polca, chote ou vaneira.

E dê-lhe gaita, e dê-lhe fole,
minha gaita de botão
manda pra longe a tristeza,
traz alento ao coração.

Meu coração de menino
já tem lá os seus anseios,
o amor não tem idade
e à paixão não se põe freio.

Não há nada que console
um gaiteiro apaixonado
quando abre os braços na gaita
pra penar crucificado.

Ensaiei uns versos buenos,
caprichei no recitado,
a prendinha nem fez caso
do piazito entonado.

Mas, gaiteiro que é gaiteiro
não deixa o baile parar,
puxei o fole da gaita
e a chinoca fiz dançar.

Há, no fole desta gaita,
redemoinhos de vento;
às vezes ela me toca
e eu sou seu instrumento!

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