Poeta: Luciano Salerno
Um dia, parei meu olhar…
Na vastidão da estância, a manhã estava serenada,
Vi um cavalo parado, nos olhos um brilho a prevalecer.
Entre o verde dos campos e a relva, um tobiano pastava…
E eu sabia que ali estava um novo amigo para conhecer.
Em minhas mãos um sovéu bem torcido de couro cru,
Com cuidado e paciência, de sobrelombo lacei com precisão.
Sem causar dor ou medo, fui falando com o tobiano,
E assim, começamos nossa jornada de doma e preparação.
Sem jamais causar-lhe dor, eu domava com amor,
Com respeito à sua natureza, em cada passo e trote,
Guiando-o com suavidade, como um gentil condutor.
Fomos desbravando a estância, num elo cada dia mais forte.
Na lida diária construímos uma amizade de confiança,
Deixei botar encilha, pra quem sabe onde monta…
Fui respeitando seu tempo e compreendendo sua dança…
Depois de duas luas, apelidei-o de: “Faz-de-conta”.
Na lida de mangueira ou pelos campos a percorrer,
Entre repechos e várzeas, numa dança de harmonia,
Sentíamos a liberdade em cada galope a florescer.
Aprendemos a enfrentar desafios com sabedoria.
E assim, desbravamos a estância de ponta a ponta,
“Faz-de-conta” e eu, em perfeita sintonia e amizade,
Em um vínculo forte, que nem mesmo o tempo desmonta.
Encontramos nas lides campeiras nossa verdade.
Na doma respeitosa, descobri a grandiosidade,
Que na infância prevalece, seguimos dando asas…
De conquistar a confiança, sem causar maldade,
Campereando pelos campos ou ao redor das casas.
O sol vai se despedindo…
Então revelo o segredo encantado, “A doma do faz-de-conta”…
Aquele tobiano de taquara, na verdade, nunca existiu de fato,
Tudo foi fruto da imaginação, um mundo que eu criei!
Uma criança feliz, revivendo do pai o seu legado!
Na amizade forjada entre o cavalo e criança…
Fica a lição dessa doma, escrita com zelo e paciência.
E que ela nos ensine a tratar os animais com carinho e respeito…
Descobrindo que o amor é a verdadeira essência!