Poeta: Paulo Ricardo Costa
A chuva beija a vidraça,
na insanidade dos tempos!
E as lembranças rompem o silêncio,
gritando dentro de mim.
Os corredores frios na morbidez das horas,
agigantam-se, nos passos lentos de tantos outros,
que buscam pelas imagens e vozes de lamentos,
a insanidade confusa, sem saber porque estão aqui.
O rangido da cadeira de balaço me adormece a alma;
Os olhos se fecham para este mundo triste,
onde gritos desesperados da insanidade da vida,
entorpeceram em agulhas de calmantes e sedativos.
Minha mente guarda em segredos o mundo que me liberta:
– O cheiro do pão de forno numa infância que já tive;
– As brincadeiras na chuva;
– O cheiro da terra molhada;
– As estâncias de tropas magras, em cacos de ossos;
– As carreiras pelos domingos do rincão;
– Os banhos de sanga, as pescarias de lambaris, o mel dos camoatins.
Lembro a mangueira de pedra na estância da minha avó;
A casa velha, de janelas grandes, de sorrisos largos, de vida e paz;
O poço de balde, onde soltava minhas angustias, pela boca do poço;
O corredor de chão batido, onde corria de pés descalços;
Os bois de cangas, as vacas de leite, o rebanho de ovelhas,
tudo vive em mim, tudo faz parte de mim, tudo ainda é meu!
Abro os olhos lentamente,
Alguém está me olhando!
Finjo que durmo – finjo que ronco – finjo que finjo,
Eles fingem que não entendem…
sou louco para muitos.
Me internaram porque falo sozinho –
Por que rio sozinho – por canto sozinho;
Eu sou sozinho!
Todos, que eram meus, já se foram
e eles não entendem, que nesse mundo em que vivo, não sou feliz!
Por isso canto – por isso danço – por isso choro!
Por que o meu mundo está lá, na estância antiga,
na frente do açude, na poeira da estrada.
no meu petiço baio – no Guri – no Russo velho – no Picaço!
Ainda ouço a minha avó chamando o Juriti!
A negrita vem correndo lamber os meus pés…
Por onde anda o Seu Domingo?
Será que está no bolicho do Ivo?
E o Sabino velho? com seu cavalo manco –
O Murcia? – a tia Negra? – a tia Daia?!
Meu Pai chegou, hoje, voltando de uma tropeada,
A correria das crianças – a mala cheia de saudade.
Rincão da Vista Alegre – rincão de gente alegre.
Alegria que me encanta e que vive em mim.
A cadeira de balanço me transporta para o mundo;
Chove lá fora – chora a minha alma.
Vivo preso na solidão dos loucos…
Insanos de um tempo diferente.
Aqui, onde, ninguém conhece nada.
Falo das coisas – falo da vida – falo do mundo.
Eles não entendem, me prenderam, pois dizem que
Sou louco por guardar um mundo que não existe,
– Não existe para eles, porque esse é o meu mundo –
A minha vida – o meu rincão!
A carreta geme subindo a picada da restinga!
Falo com os bois:
– Vamos Lampeão, vamos Campeão;
O rangido triste parece que chora na minha saudade,
e a vida floresce num olhar profundo – do meu mundo –
do meu tempo – dos meus sonhos!
Minha avó vem sorrindo para me pegar no colo!
As crianças correm – o tempo corre – o mundo corre.
A pressa me leva pela mão e o tempo passa;
Minha avó já se foi – meu Pai já se foi
– tantos outros já se foram…
e eles não entendem que tenho saudades,
que tenho lembranças, que tenho amor!
Não queria nunca mais acordar desse sonho,
mas alguém bate na porta,
é outro louco igual a mim que chega chorando,
que chega pedindo, que chega clamando…
Por que “eles” não entendem, que há um mundo diferente,
guardado dentro da gente, de um rincão, florido de amor,
que chamamos de saudade!