Poeta: Joseti Gomes
Francisco entrou na cozinha
Esparramando os butiá
Que lhe caiam do bolso.
Um pé, ainda, nas botas…
O outro, campeando chinela…
Não percebeu, na janela,
O vulto do tempo feio…
Era o dono do arvoredo!
De cara mal desenhada,
Dava mais pena que medo!
“Me adescurpe siá Tininha,
Mas é caso necessário.
Esse guri é uma afronta
E eu já tô muito furioso!”
O Turíbio se cuspia,
Se engasgava, tossia
E continuava falando:
“O causo tá compricado!
Se o guri não tomá jeito
Eu vô chamá o delegado!”
Tininha, muito jeitosa,
Acalmou o seu Turíbio
Que voltou no mesmo rastro.
A prosa, agora, era outra!
O Franscisco era teimoso.
Um guri, já quase moço
Para apanhar dessa forma,
Cuma vara de marmelo…
Mas não iria escapar
Do peso do seu chinelo!
Quando a mãe se foi morar
Na estância grande do céu,
Deixou o pequeno Chico
Aos cuidados da irmã…
Ela cortava um dobrado
Com o guri, malcriado,
Que aprontava todo dia.
Era uma praga o rapaz!
Coitado do seu Turibio!
Não sei quem sofria mais!
Franscisco saiu correndo,
Atravessou a porteira
Ligeiro, feito um corisco,
Sem nunca olhar pra trás.
Se foi pro rumo do mato,
Fugindo igual um gato
Que sabe bem do perigo.
Era o tal “Capão da Benta”!
Foi aí que se deu conta
Do tamanho dessa encrenca.
Todo mundo conhecia
A história daquela moça
Que ficou desesperada
Quando o noivo foi embora.
Arrinconada no capão,
Com uma corda na mão,
E armada pronta pro laço,
Arrastando o seu vestido
Corre na noite escura
Pra pealar um marido.
“Até pode ser mentira,
Causos que o povo inventa
Para assustar as crianças…”
Franscisco respirou fundo
Fazendo o sinal da cruz,
Com a benção de Jesus,
Rezou quatro padre-nossos.
Oigalê vida mesquinha!
Preferiu ver o fantasma
Do que apanhar da Tininha!