Poeta: Paulo de Freitas Mendonça
No Banhado do Taim
juntou-se a bicharada,
querendo fazer poema,
rimando tudo com nada.
Sem saber muito de antítese
a bicharada a fazia,
mas queria incluir rima
e isto, ninguém sabia.
Logo chegou a coruja
com o seu olhar brilhante
e disse: eu os ensino
a linda rima consoante.
Todos fizeram silêncio
a coruja, num segundo,
lhes disse que a consoante
é rimar fundo com mundo.
O quero-quero sabido,
querendo ser bem esperto,
perguntou: capim com fim?
E a coruja disse: certo.
A capivara escutava
só de cabeça de fora.
Logo pediu, por favor,
eu quero tentar agora.
Seria artigo e amigo,
Ibicuí com Toropí?
A coruja respondeu:
correto. É isto aí.
A garça moura arriscou:
frio, estio e assovio?
A coruja fez certinho
confirmando e só sorriu.
O cavalo que pastava
disse capincho e bochincho.
A coruja disse, certo.
Ele sorriu num relincho.
A vaca deu um mugido
fez todo mundo escutar.
Disse: é pasto e vasto
e já voltou a pastar.
Até a jaguatirica
que a tudo, quieta assistia,
disse: pintada e molhada
e tornou a lamber a cria.
O sapo que coaxava
em contraponto ao grilo,
disse, salto com asfalto
e mergulhou com estilo.
Gritou o tatu mulita
também é foca e minhoca.
Quando todos o aplaudiram
chegava saltar da toca.
A lebre passou correndo
e nem licença pediu.
Disse: cachorro e socorro
e já no campo sumiu.
A preá olhou e disse:
bom dia com a alegria.
Depois olhou pros dois lados
e cruzou a rodovia.
A bicharada aprendeu
a rima que não sabia.
Depois daquilo o Taim
é palco de cantoria.
A coruja orgulhosa
compreendia por saber
que depois que se aprende
é bem fácil de fazer.
Lembrou que não ensinara
rima rara, rica ou pobre.
Sentenciou e silenciou:
cantando é que se descobre.