Poeta: Caine Teixeira Garcia
Eu tinha um baita petiço
Que eu chamava de “Raio”.
Das patas brancas e curtas
E de pelagem bem baio.
Mas perdi meu companheiro
Num veranico de maio!
E vou contar essa história
Do meu Raio – muy ligeiro –
Um sabedor de toda a lida
Petiço crioulo e campeiro!
Louco por carreirada,
Sempre chegava primeiro.
Era uma tarde bem linda
– daquelas flor de buenaça –
Eu ia montado d’impelo
“Escramuçando”, fazendo graça,
Pois eu puxei ao meu pai
E tenho orgulho da raça!
Pois quando apeei no bolicho
Do Tio Lautério – véio bueno –
Veio um piazito bobeando
Querendo largar veneno…
Mal sabendo que sou taura
E que do nada eu já enfreno!
Quem me tira pra “chiquita”
Por certo não vai muy longe:
Ou vai refugar bolada
Ou logo, logo se esconde!
Perguntei para o folgado
E eu te conheço de onde?
Eu sei quem és, disse ele
– em um tom desaforado!
És só um filinho de papai
Que se exibe no povoado!
Te desafio pra uma carreira
Completou, bem entonado!
Mas então que seja agora!
Gritei sem nem pestanejar!
Com esse teu lobuno manco
Não dá nem pra começar
Vais comer vento e poeira,
Falei com fogo no olhar!
E se “ajustemu” rapidinho
Pra essa carreira imprevista
Toda indiada lá na cancha
Pastel a perder de vista
Cerveja e trago na guampa
E miles de apostas na pista!
Logo que deu-se a largada
Meu Raio tomou distância!
Do lobuno, nenhum sinal
Iam pagar a petulância!
E pensei: mesmo ganhando
Eu vou manter a elegância!
Mas não é que o destino
Pôs armadilhas no final?
Já vinha olfateando vitória
Quando um buraco do mal
Prendeu a pata do baio
Nos dando um golpe mortal!
Triste sina meus amigos,
É impossível descrever
Esse cenário de tristeza:
Ver o meu Raio morrer!
E a dor maior que senti
Foi nada poder fazer.
Me custou caro o orgulho
Num veranico de maio…
Perdi meu petiço amigo
– que de pelagem era baio –
Se foi ao céu dos cavalos
Sempre veloz como um Raio!