Poeta: Athos Ronaldo Miralha da Cunha

No meu lugar havia uma sanga
E pitangas nos matos da infância
Trilhos para brincar de maquinista
E uma vista carregada de distâncias

No meu lugar havia um bolicho
E bichos nos pátios das casas
Algazarra e correrias nas calçadas
No calor dos verões em brasa

No meu lugar havia uma vizinha
Que sempre trazia um pote de mel
Para brindar ao café das tardes
Gosto de ternura e grandeza do céu

Nas noites de chuva e temporal
Um castiçal e medo sob as cobertas
Histórias de assombração e terror
E amor de mãe na porta entreaberta

No meu lugar eu jogava bolitas
Em tardes bonitas no chão das calçadas
Na frente das casas no arremate dos dias
E um cão que latia pra gurizada

No meu lugar havia uma rua
E noites de lua na fogueira de São João
Pipocas e quentão que a mãe fazia
Para aquecer os sonhos do coração

No meu lugar havia uma guria
Que não saia do meu pensamento
Trago um lamento na lonjura dos anos
E uma paixão na cauda do vento

Faz tempo que não tenho mais este lugar
Um mar de encantos na poeira da história
Caminhos de ida sem pouso e nem volta
Ficaram lembranças na paz da memória

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