Poeta: Adão Quevedo
Minha vó é uma criança,
nunca vi mais debochada,
suspira, dorme sentada…
Quando a cadeira balança
e a sua alma descansa,
ela sonha, dá risada…
Minha fada encantada!
Daria a vida por ti…
Não quero te ver partir
para uma outra jornada.
O teu lugar é aqui,
ao meu ladinho, abraçada,
só peço isso e mais nada…
Enquanto Deus permitir,
quero sempre repartir
estes momentos eternos,
os teus abraços fraternos…
Na moldura dos espelhos,
vejo claros teus conselhos,
no rigor dos meus invernos.
Sou parecida contigo,
vivo no mundo da lua,
com moradores de rua,
com poetas e mendigos,
declamo pelos abrigos.
A humanidade, sombria,
faz pouco caso, desvia,
desconhece a desgraça…
Mas meus olhos são vidraça
e eu sou alma e poesia.
Duas meninas caducas
brincando de ser feliz…
Se não ouço o que ela diz,
ela então me cutuca:
“Olha aqui, sua maluca,
te ajeita, toma juízo,
nesta vida é preciso
enfrentar os preconceitos,
exercer os teus direitos
contra hipócritas, Narcisos”.
Às vezes, rezo em silêncio
pelo presente de tê-la,
feito guia, feito estrela…
Vez por outra perco o senso
ao dizer tudo que penso
da menina que há em nós.
Então, ouço a tua voz,
humilde, com sapiência:
“Guria, toma tenência…
Escuta a tua avó”!!!
Conviver com os terráqueos
ainda não aprendemos,
do planeta em que viemos
só trouxemos o prefácio…
De que adianta um palácio
com pedras, grades e muros,
se por dentro for escuro,
sem a luz de um sorriso?
Eu prefiro o paraíso
destes teus olhos… maduros.
Um comentário em “A menina que há em nos”