Poeta: Adão Bernardes

Eu era um pouquinho mais
Que uma criança inocente
Quando ganhei de presente
A musa dos animais
Égua que em termos gerais
Era igual uma pintura
Marcha doce, anca dura
Gravura pra um almanaque
Uma Zaina de destaque
Linhagem crioula pura.

Obediente, marchadeira
Sempre de pelo escovado
O casco era bem groseado
No serviço era ligeira
Fosse pra lida campeira
Ou em domingo um passeio
Afamada pra jardeio
Possuía um olhar veloz
Reconhecia minha voz
Mansinha de rédea e freio.

Se fez minha montaria
Da família a predileta
Deixando a vida completa
Nós formamos parceria
Meus comandos atendia
Tinha uma baia só dela
Atenta igual sentinela
Tosada de crina e cola
Quando eu chegava da escola
Proseava muito com ela.

Juro que ela me escutava
Demonstrava entendimento
Lia até meu pensamento
Quando por lá me achegava
Ligeiro a tarde passava
E deixá-la era um castigo
E em verdade vos digo
Nunca me provocou tombo
Se me punham no seu lombo
O restante era comigo.

Papai prometeu pra mim
De realizar meu sonho
E falou sério, eu suponho
Filha, faremos assim
Em setembro tem clarim
E o Rio Grande inteiro brilha
Terás uma linda encilha
Capa igual uma sotaina
Pra desfilares com a Zaina
Na semana farroupilha.

Nunca mais dormi direito
Sou só expectativa
Me vejo amazona altiva
Portando um traje perfeito
Imaginando o efeito
Que vou causar na assistência
Sinto que sou a essência
Ao montar de fronte erguida
Percorrendo a avenida
Orgulhando a minha querência.

São meus sonhos de futuro
São minhas metas pessoais
Nas festas tradicionais
Andar num tranco seguro
E nesse transe eu procuro
Honrar a pátria sulina
Sou gaúcha genuína
Com responsabilidade
Civismo e identidade
Sem deixar de ser menina.

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