Poeta: Delonei Bergamo Picoli
Caramba, mas que tormento
que está este temporal,
me viro, rolo na cama,
só de pensar fico mal.
As bruxas e as vassouras,
cortando com suas tesouras,
os cabelos mais bonitos
que nascem no milharal.
De sabugo fiz o corpo,
de retalhos fiz as roupas,
até touca e avental.
De uma caixinha a cama,
forradinha de jornal.
Não pode ficar careca,
os cabelos da boneca,
vem de lá do milharal.
E a noite se faz comprida,
cochilo e logo me esperto,
de certo o dia tá perto,
que mal posso esperar.
Amanhã vou acordar,
e renovar a esperança,
vou embalar a criança,
e seus cabelos trançar.
E o sol que nasce me esperta,
volta o mundo iluminar,
de novo, volto a brincar
com minhas bonecas de pano.
Que os ventos fortes que sopram
neste mundo de grandeza,
nunca nos tire a beleza
e a vontade de brincar.
Que nunca falte um lar,
e uma criança a ninar
uma boneca de pano.
Que o mundo digital
não nos tome por total,
a inocência das crianças.
Que esses sonhos de infância
não morram num vendaval.
Que se conserve os retratos
das bonecas de avental
e nunca arranquem os cabelos
que nascem no milharal.