Poeta: Angela Maria da Silva

Na casa onde eu cresci
Pros lados de Tapera,
Haviam muitos animais:
Faisão, galinha d’Angola, peru,
Macaco, papagaio e até um jacu!
Alguns um pouco diferentes
Outros, muito baguais.

Garnizés pequenos e invocados,
Sempre pleiteando confusão;
Cristas vermelhas, bicudos
Donos de matutinas canções.
Ficavam muito enciumados
Ao ver o pavão, beleza em pluma verde,
Jeito mágico de conquistar paixão.

A macaca Chica vivia no pé de laranjeira,
De todos, era a mais exigente;
As bananas ela mesma descascava,
E quebrava o ovo sem perder uma gota!
Fazia caretas e micagens, se tivesse plateia,
Era uma bichinha muito inteligente.

Às vezes, se soltava e fugia…
Matava todos de preocupação.
Passeava por cima dos telhados,
Entrava pelas janelas das casas,
E aparecia de volta só quando queria…
Na vizinhança era só reclamação!

Ainda vejo o cusco Sassá,
Latindo para afugentar o ladrão.
A galinha choca no ninho,
E os pintinhos recém descascados;
E tinha também os guaxos,
Que comiam na minha mão.

O pavão Jurildo perambulava no galpão,
Os leitões mamando na mamadeira,
Os pintinhos aquecidos com uma lâmpada,
Os cachorrinhos que eram rejeitados pela mãe…
Todos recebiam atenção e amor,
E, para a família, dava uma trabalheira.

Lembro de histórias de assustar…
Como o dia em que as abelhas, ouriçadas,
Enlouqueceram e atacaram a bicharada!
Papai teve que sair correndo
Fazendo barulho e fumaça,
E disse pra mim com voz forte:
– Deixe a casa toda trancada!

E eu tinha medo dos lagartos do mato
Que visitavam a nossa cozinha;
Ficavam horas num banho de sol,
E eram sempre bem alimentados.
Ganhavam pão, ovo cozido, arroz…
Tudo para ficarem longe das galinhas.

Não se espantem se ouvirem por aí
No rádio ou na televisão,
Histórias, aventuras e gauchadas.

Da casa da bicharada;
Pois dela muitos já ouviram falar,
E dizem que, por anos,
Foi uma grande atração.

Minha infância foi muito feliz
naquela casa abençoada;
Bichos que corriam, falavam, saltavam…
Me ensinaram sobre valores:
Amor, gratidão e lealdade.
E, no meu coração, eu guardo
imagens de uma infância doce e encantada!

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