Poeta: Vitor Bielaski
O Menino ainda está lá
naquele mesmo lugar!
No meio da penteadeira,
No quarto da benzedeira
Que já não pode rezar.
Mas o Menino está lá,
Na lembrança, na esperança,
Abençoando e protegendo
Os meus sonhos de criança.
Era um menino de gesso
De rosto doce e olhar cheio de luz.
Era o menino Jesus
Que me encarava de frente.
Naquele jeito inocente
de proteger os meus passos,
Levando o mundo nos braços
E uma coroa na fronte.
Havia outros santos também!
A Virgem, a Padroeira,
O Pai dos Pobres
e até o Santo Casamenteiro.
Do alto da cristaleira,
Cuidavam de toda a gente.
Um Cristo na sala da frente,
Para acolher quem chegava,
Mas o que mais me encantava
Era o Menino de Praga,
No meio da penteadeira.
Que dó! Quando o coitadinho,
No pega-pega da gente,
Caiu no chão, de repente
E perdeu um dedo da mão!
A avó não se enfureceu
Mas hoje eu sei o quanto doeu
Ver o Menino no chão!
E ele voltou pro lugar
No centro do espelho grande.
Levando o mundo nas mãos
E um terço dependurado,
Para esconder o reparo
Daquele dedo da mão.
N’outro tombo,
Nem sei quando!
A cabeça delicada
Desmembrou-se do corpo.
Colado, quebrado e torto,
O menino, não sei como,
Voltou a tomar o seu posto.
Do alto da penteadeira,
Benzendo a casa e o campo,
O mesmo encarnado no manto
E a mesma doçura no olhar.
O Menino ainda está lá,
cuidando da velha tapera.
Talvez esteja na espera
De ser escudo e abrigo,
Sem renegar a esperança.
Ou quem sabe está mirando,
Protegendo e abençoando
Os meus sonhos de criança.