Poeta: Alex Brondani e Angela Maria da Silva

Eu sou um piazito gaudério
Que vive seu tempo e momento,
Uso um chapéu de barbicacho,
E moro em um apartamento.

Tenho uma bombacha listrada,
Um chiripá e um lenço vermelho,
Mas nos meus dias da semana
Eu uso tênis o tempo inteiro.

Minhas raízes estão aqui,
Na urbanidade dos laços,
A minha escola e os amigos,
E a família sempre ao meu lado.

Com a Internet e a tecnologia,
Com o meu celular e um tablet,
Eu vejo vídeos no YouTube,
E cevo um mate nas tardes.

E gravo a cuia do mate
Para postar no tik tok,
Minha vida e as gauchadas
Estão todas na internet.

Eu vejo de minha janela
A cidade em que eu nasci,
Mas não esqueço do campo,
Que é vivo dentro de mim.

O mundo em que eu cresço hoje
Não é mais o mundo de “outrós”,
onde cresceram e se criaram
os meus pais e os meus avós.

Eu já não ando de à cavalo,
Para chegar na minha escola,
Nem atravesso um rio a nado,
Tem uma “Van” que me transporta.

A minha semana é movimentada,
Tem aulas, o inglês e a natação,
E é um corre-corre danado,
Muitas atividades e agitação.

Eu brinco e jogo videogame,
E também não fico parado,
No futebol eu sou o artilheiro,
E por todos sou abraçado.

E nos finais de semana,
Eu preparo os meus avios,
E vou pra fora, no campo,
Na fazenda dos meus tios.

Lá o dia é sempre cheio,
Emoções para todo o lado,
Tem as vacas e as galinhas,
E as recorridas do gado.

E quando, de tarde, anoitece,
Chega a hora dos causos…
Com os contos de assombração
Eu fico sempre arrepiado.

Tem um tal de lobisomem
Pros lados do Inhacundá,
E uma cobra de fogo
Que se chama Boitatá.

O pequeno Sanguanel
Que é vermelho e levado,
Rouba crianças e as esconde,
Deixa a todos preocupados.

E um saci que pede fumo,
E acha as coisas perdidas,
Lá no campo é sempre assim,
Mistérios para toda a vida.

Durante o ano eu estudo,
Aprendo bem as lições,
Matemática e português,
história e as religiões.

E quando chegam às férias,
Eu fico sempre empolgado,
Todo o ano tem pescaria,
Meu pai e eu, lado a lado.

E meus pais são bem gaúchos,
Cultivam a tradição,
E eu frequento um CTG,
Declamo versos com emoção.

Danço chula, faço poemas,
Aprendo gaita de botão,
E ainda faço uns floreios
Nos braços de um violão.

E firmo a mão na vaca parada,
Quando atiro o meu doze braças,
E se solto o meu laço no espaço,
O pealo é sempre de cucharra!

E quando acerto só nas guampas,
Saio pacholeando às gargalhadas…
E fico ouvindo o povo a gritar,
“É boa, é boa, é boa a armada!”

Meu pai quer que eu lace nos rodeios,
Minha mãe quer eu dance na invernada,
Que eu levante a poeira do chão,
E aprenda os sapateios e as entradas.

E é por isso que, nos palcos,
Eu danço com galhardia;
Faço floreios para a prenda
E não erro a coreografia.

E quando eu saio da dança
Com o meu grupo de invernada,
Garboso, no Instagram e Facebook,
Minhas fotos são publicadas.

E assim, no meu dia a dia,
Eu vou deixando de ser piá,
Crescendo e me transformando,
Mas com histórias pra contar.

Aprendendo a ser honesto,
E cultivando a tradição,
Ouvindo sempre aos mais velhos,
Que são esteios deste chão.

Um guri com alma de querência,
Num mundo em transformação,
Vivendo o velho e o novo
Em harmoniosa junção.

Um piá com raízes de campo,
Mas urbano por circunstância,
Dentro de mim cabem os dois,
Cada um com a sua essência.

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