Poeta: Alex Brondani
O mate amargo que eu sorvo
Na sombra deste momento,
Tem sentido na trilha aberta
Nos rumos de um sentimento,
E o tranco manso da tropa
Guiada em seus desalentos,
É o potreiro de campo aberto
Onde carreteio pensamentos.
Descobri que a liberdade
Não se estanca nos alambrados,
Como a fúria de um potro novo
Que encilhei no meu passado.
Entendi que o tempo corre
Nas vergas do descampado,
Onde as rodilhas dos ventos
Laçam estrelas no espaço.
Os marcos desta querência
Deixam gana de horizontes
Na saudade refletida
Dos meus fletes e amores,
Das estradas busco ainda
as sesmarias da paixão,
E nas distâncias levo a vida
Sofrenando a solidão.
Tenho sonhos de um dia
Ter tropilhas na invernada,
Neles planto o meu destino
Nas cismas desta jornada,
Sei que os sonhos são sementes
No plantio do criador
Onde busco reminiscências
Em anseios de bombeador.
No tecer das alvoradas
Me basta o fogo de chão
E um pouco d´água na cambona
Pra cevar meu chimarrão,
Trago a essência desta terra
Marcada no coração,
E nas quimeras andarilhas
Encontro a voz da razão.
Já fui ponteiro de tropas
No ofício desta jornada,
Gaudério, cruzei fronteiras
Em tempos de campereadas,
Fui parceiro de tosquias
Na lida, pelas comparsas,
Fui caseiro em noites frias
No lombo das madrugadas.
Sou mescla de pó e pampa
Da fonte que não secou,
Sou mistério de águas calmas
De um tempo que se perdeu,
As arestas dos meus dias
Trazem sendas e lembranças,
E os peçuelos da memória,
Recuerdos de minha infância.
Em todos os meus valores
Sou poncho de paz e guerra,
Sou rama de infinito
Que não conheceu cancelas,
Sou cerne de bom angico
Que nunca esmoreceu,
Sou guapo, clarim de auroras,
Da estampa que não morreu.
O tempo que a mim consome
No brete dos desenganos,
É a tropa que vai por diante
Na longa estrada dos anos,
E a carreta que vai por diante
Na ronda de seus caudais
É a vida que vai embora
Sem poder voltar jamais.